quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Extranjero

Nos sonhos as coisas se tornam mais reais do que nos encontros casuais em que ele sempre quebra o pescoço no sentido contrário do outro evitando a troca de olhares. Nos sonhos o rosto dele parece visível em cada traço e não mais no embaçado do real, vultuoso e insensível. Os dentes cerrados e miúdos demonstram uma quase insatisfação, a boca com seu lábio superior ressacado e o outro mordido pelos stress, de que tanto o outro reclama. A barba por fazer cobre a metade do rosto e no sonho é possível sentir cada pêlo arranhando suavemente a pele lisa do rosto do outro. Os olhos redondos de um castanho único que sempre brilhava mais com o sol que batia direto da janela da cozinha nas tardes de sábado, rodeados por leves tons negros eram ora grandes como jabuticabas numa versão castanha, ora pequenos cobertos quase totalmente pelos cílios. 
Olhando diretamente respondeu mal a pergunta matinal do outro:

Dois pães amor?
Claro!

Acordou sem nenhuma mágoa desse mau humor matinal dele. Riu-se todo do feito e repetiu para si mesmo - Memórias, memórias, memórias. De tudo só restam memórias.

Ahora soy (yo) um forastero
Mirándote girar
Deseando ahora no ser
(mas) Extranjero