a porta esteve trancada por muito tempo e de repente ela se abriu de um sobressalto fazendo tremer todos os móveis da sala e os órgãos do corpo. manso, entrou sem dizer nenhuma palavra e permaneceu sentado no assento mais próximo da saída, como quem diz que sairá logo. não saiu. permanece a rodar a chave no dedo indicador infinitamente, fazendo aquele barulho que já não me sai da cabeça.
eu, que me aprontara todo pra sair e ir trombar as pessoas nas ruas cheias, mesmo que elas, elas mesmas, as pessoas, permanecessem vazias, como disse a poeta amiga, desisti da saída, perdi todo o tesão e me sentei no parapeito da janela fumando meus cigarros enquanto olhava atentamente aquelas chaves fazendo círculos infinitos como a fumaça do cigarro batendo no teto branco. minhas poucas ações resultaram em copos de água, ora cheios, ora vazios, mais nada.
tranque essa porta, por dentro ou por fora. há maços de cigarro para vida inteira aqui.