sábado, 13 de março de 2010

por um triz

eu fiquei te olhando até te perder de vista, você foi andando, fumando seu cigarro com todo aquele ar blasé e sem perceber que te observava olhou pra trás, eu senti. eu poderia ter ido atrás de você, eu até fui, mas esperei o tempo necessário pra que você não me visse, não sentisse a minha presença. eu sei que poderia ter te seguido, corrido atrás de você e agarrado em seu pescoço como em brincadeiras de minha remota infância, e beijado teu rosto, sentido teu gosto, teu cheiro de bebidas baratas, cigarros baratos misturados à um cheiro de perfume importado, sentido você exatamente como é, te tocaria, iria contigo e viveria toda uma vida em apenas algumas horas, em apenas uma noite e seria intenso, escancarado, vulgar, insano, bonito e o escambal. mas eu não fiz nada disso, por alguma coisa que me impediu, mas não me sinto nem um pouco mal por isso, porque a sensação do quase, do por um fio, por um triz, é significante, é maravilhosa, é fodida. eu amo isso. eu fiquei ali, na esquina te vendo sumir por entre as árvores em contraste com a luz sépia dos postes.