terça-feira, 13 de abril de 2010

a(d)mor

o amor me deu um tapa
e me chamou de puta.
com sangue e lágrima
respondi
em quem mais você se vê
perdido e fodido?
em que mais você se vê
mal-pago, mal-falado?
em que mais você se vê
dilacerado?

dessa puta
estrague a outra face
porque essa dor
é sua
mais que minha.

(só) em mim

-vai embora.
-já fui.
-vai embora.
-meu corpo já foi.
-vá.
-o cheiro também.
-chega.
-o gosto e o gozo.
-suma.
-a saliva.
-por favor.
-o calor.
-você está só.
-saia.
-e louco.
-morra.

espelho, sangue, bituca, garrafa vazia
dois mortos.

(de)novo

porra, tá acontecendo, tá acontecendo igualzinho há muito tempo. o coração que eu já havia esquecido que existia tá batendo cá no meu ouvido e sufocado pela pouca pedra que ainda o cerca quer gritar alguma coisa. faz barulho a noite inteira, não me deixa mais dormir. a cabeça tá virada só pensando em um ti, um ti em mim, um mim em ti. pensando nos olhares, nos gestos, pequenos gestos que eu vi em ti e que já não saem de mim. eu me apeguei no mais atormentador, nos teus traços, nos teus detalhes mais insignificantes pra qualquer outro. o pior é que lembro de tudo, cada movimento do teu cabelo, da tua boca, o teu sorriso, teu sotaque, até seus "tiques", mas não consigui guardar teu rosto, só consigo ver-te nos teus gestos, não há polaróides no meu bolso que me façam ter-te aqui, nem que seja no papel, na mão. amanhã não irei ver-te, quiçá depois, vão ficar esses traços palhaços, como o tolo que cá escreve.