terça-feira, 18 de maio de 2010

o que ainda temos

a gente acha que vai ficar assim pra sempre. naquele silêncio em que só se ouve o grito que vem de dentro, um gemido quase insano, quase maldito, de dor, de amor e desses sentimentos que atormentam a alma, que atormentam isso que chamamos de nossa-vida. e você chora, ri, manda tomar-no-cú, bebe pra esquecer, pra fugir, diz não-eu-não-quero-isso. mas vem logo alguém tocar seu ombro bem naquele lugar que dói e não é o coração. e diz um o-que-que-foi? e aí você percebe que, porra, não existe auto-suficiência. e aí se torna pior, porque você não pode, não quer se entregar, não quer dar o braço a torcer, quase literalmente, o braço a torcer pra essas porras todas. chega disso, chega de se ver no buraco daqui a alguns segundos, minutos, horas, meses. pensa, pensa, pensa, sofre, sofre, morre de vontade e no final você tá a mercê. diz que dessa vez vai ser diferente e diz que tá sendo, tá sendo bom. tudo são flores, mas elas murcham e soltam seus ares fétidos no próximo momento. mas a gente vai se apaixonar, não é? a gente não vai parar de fazer essas coisas todas. a gente tinha prometido não parar. porque afinal, somos esses seres humanos fragilíssimos, esses filhos-da-puta que fodem com a vida de um monte, assim, sentados em bancos a espera de pessoas que não vem, de telefones que não tocam. e a gente vai amar, amar, amar até o fim, o fim desses amores eternos, internos, infernos, desses pra-sempre ou desses nunca-mais. e tudo soará bom, como suspiro no pé do ouvido, até não fazer mais sentido, até já não ter mais jeito. no final, ainda temos cervejas, cigarros, bancos gelados e telefones que não tocam.